sábado, 31 de janeiro de 2009

Cult

Aí você resolve que vai no teatro, certo? Depois de anos sem visitar um único centro cultural, sem fazer um único programa do qual sua veia artística se orgulhe, você resolve ir no teatro, certo?

Aí você pensa assim, bom, já que eu vou chegar bem cedo na peça, dou uma passada num bar antes pra tomar uma cerva... certo? Aí você pensa, bom, já que compramos o ingresso pela internet, vou mais cedo pra pegar o ingresso na bilheteria, e depois eu vou no bar, tomo uma cerva, e volto pro teatro... CERTO?

Aí você pensa tudo isso, mas... Murphy não é legal com pobre. Daí que chove, daí que falta luz, daí que a peça é cancelada.

Daí que você pensa: VIU, DEUS??? EU TENTEI... mas o bar, realmente, é o lugar onde eu tenho que ficar.

Cultura de cu é rola. O negócio é beber mesmo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ser homem no Brasil

Seguindo o embalo do post anterior, em que Ana P. escreve um texto sob o ponto de vista masculino, empolguei-me e resolvi escrever sobre ser homem no Brasil.

Ser mulher, todos sabem, é algo muito difícil. F[s]omos relegadas à posição de propriedade por muitos anos e, atualmente, buscamos a emancipação constantemente, tentamos levar a vida que queremos, ainda que esta vida seja "apenas" igual à dos homens. Mas todos sabem que não, não é. Ser mulher hoje em dia é algo muito difícil, por tudo que as pessoas já vêm refletindo mundo afora.

Agora, ser homem, é algo que eu simplesmente me encanto por descobrir como é! Os homens têm algo que me intriga e não é à toa que eu escrevi muito sobre isso durante a graduação [não maliciem, beibes!].
Porque os homens, nós mulheres bem sabemos o quanto, em diversas situações eles demonstram ter capacidades mentais e sociais tão incompreensíveis que chegamos a pensar no quanto eles são burros! Não se ofendam, mas é verdade, nós mulheres, muitas das vezes achamos os homens muito burros. No que diz respeito à conquista, vou ser franca, os homens não são lá muito inteligentes! Acredito eu, com minhas conjecturações cotidianas, que pode ser pelo fato de que eles sempre tiveram as mulheres à disposição e não muitas dificuldades para conquistá-las [historicamente falando], portanto, os homens, de maneira GERAL [sei que existem exceções], não são tão acostumados a conquistar. Quando eles inventam de conquistar, são sempre as mesmas coisinhas de sempre e a gente sempre saca quando isso está acontecendo.

Mas o que me intriga MUITO é que, ser homem no Brasil, é algo que eu imagino que seja bem difícil. Por quê? Porque aqui existem MUITAS mulheres bonitas, mulheres lindas que, quando o rosto é feio o corpo dá um jeito de compensar e, quando o corpo é feio o rosto compensa. Enfim, as mulheres aqui são muito bonitas, isso é fato!
Então, os homens a todo instante são levados a admirar as mulheres desse país. E, como eles não têm o costume de ter que se esforçar pra conquistar alguém, eles vêm sempre com as velhas cantadas idiotas, aquela coisa bizarra que a gente já tá bem acostumada [se não acontece conosco, já presenciamos várias dessas cenas].
E isso é horrível, porque nós mulheres mudamos! Não queremos apenas ser valorizadas pelo físico e tals [isso é importante, mas somos mais do que isso!]. E, passar pelas ruas e ver que os homens continuam com as velhas cantadas de sempre, é algo mesquinho, nojento, que enche muito o saco!

Mas eu também acho que ser homem nesse país não é algo lá muito fácil, porque se eles vêem uma gostosa-fazendo-cooper-com-bunda-durinha, eles logo têm que dar aquela secada e, se possível, falar algo do tipo "vc está linda nessa calça de ginástica" ou "uau, que corpo escultural" ou qualquer besteira que a gente é obrigada a ouvir nas ruas.
Então, fica aquela coisa totalmente ruim nesse país: os homens sem saber como chegar ou em qual mulher chegar [porque as boas opções são muitas!] e nós, sabendo que não somos apenas "corpos bonitos", tendo que aturar esse assédio constante!

Eu vou lhes ser sincera, se eu fosse homem, de boa, eu estaria permanentemente em crise nessa área! Porque, tratar uma mulher como "bonita" ao invés de como "mulher" é algo que só satisfaz algumas que se reduzem a isso pra não ficarem sozinhas! Chegar em mulheres falando em "compromisso" hoje em dia é algo que causa muito pavor também. Chegar em mulheres só pra "dar umazinha" é algo que surte efeito em algumas que fazem uso dos homens e não se sentem meros objetos por tornarem os homens objetos também. Ficar naquela coisa tímida de ficar tentando se aproximar de uma mulher sem querer tratá-la como objeto e também sem propor um compromisso logo na cara, pode ser algo enfadonho para nós mulheres e tornar o homem desinteressante.

Exemplo: sair com uma mulher e pagar a conta, pode ofender as mulheres que se orgulham de suas independências. sair com mulher e deixar ela pagar a conta toda, parece folga demais! sair com mulher e propor a divisão, pode parecer que o cara não está muito interessando ou, até pode parecer injusto, porque os salários das mulheres ainda estão longe de serem no mesmo nível que os salários dos homens! Se eu fosse homem, nessa situação, eu não saberia nunca como agir! [certa vez um amigo disse "eu não dou mais presente pra mulher não! Eu já dei muito presente e ela "abusou" de mim; eu já fiquei sem dar presente e ela também cansou de mim! eu já dei presente só em datas comemorativas e ela também se ofendeu! então eu resolvi que eu não dou mais presente e pronto!".] [podia dar N exemplos, mas vou parar por aqui.]

Sério, ser mulher é algo muito, mas muito difícil. Assim como ser homem! Num momento em que os papéis não são definidos e todos "podem" ser o que "quiserem" ser, fica difícil ser até animal de estimação! [as aspas são porque eu sei que as condições de igualdade ainda estão longes de serem reais! mas... é a idéia que se passa, né não?]

[esses pensamentos se passam porque em São Paulo eu sinto essa coisa do assédio masculino com muito mais intensidade do que em outros lugares que já vivi.]

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Correndo

Levanta, não dá tempo nem de olhar pro relógio. Vai erguendo os vários quilos, tentando espantar a preguiça e acomodar a coragem dentro do peito. Não dá pra pensar muito, pensa apenas que, como sempre, está atrasado para o trabalho. Banho de cinco minutos é luxo. Pega logo a primeira roupa do armário, nem pensa se combina ou não. Vai.

Mas é tão charmoso, tão... ele, que ele pode sair de casa sem o banho. Tá, sem o banho é exagero. Mas podia ir pelado. Facilitaria muita coisa.

Saiu, cheiroso como sempre. Atraiu olhares, corridos, mas que viram. Viram a corrida exasperada atrás do ônibus, não dá pra perder, não perde não, me espera, ai. Foi. Atrasou nessa mais uns vinte minutos. Espera batendo a perna, faz o tempo passar mais devagar. Lembra das músicas no celular, vamos ouvir alguma coisa, quem sabe o tempo passa.

O tempo corre. Corre igual esse ônibus, fidaputa, paraeeeee... passou. Mais dez minutos. Tudo bem, se eu pegasse esse, teria que correr mais dez minutos pra chegar correndo no trabalho.

Passa uma moça fazendo o cooper da manhã. Cooper, alguém ainda diz isso? Corrida. Passou, deu aquela olhadela básica que a maioria dos homens dão. Num podem ver mulher gostosa, e olha que essa nem era tanto. Mas a bundinha... valeu a pena a olhadela.

Olha lá, já vem o ônibus. Dá sinal, entra, senta. Espera. Batendo a perna, faz o tempo passar. Livro? Procura na mochila. Caralho, esqueci. Vai passando o tempo com a batidinha na perna. Nem sentado não consegue parar de correr. Os pensamentos correm:

não posso esquecer de chegar e já bater o ponto outro dia esqueci e aquela fidaputa quase que não abre uma exceção pra mim como se ponto eletrônico não servisse justamente para isso para ser burlado mas vá quem foi que inventou o ponto também será que os patrões nunca confiaram nos seus subordinados escravos não precisavam marcar ponto e trabalhavam mas era trabalho forçado né às vezes eu canso de trabalhar mas se eu não trabalhar quem vai pagar minhas contas aliás parece que é só pra isso que eu vivo contas e mais contas chegou a fatura do cartão eu nem percebi acho que aquelas brejas que eu tomei no sabadão não vão vir nessa espero que não bateu uma vontade de ligar pra ela de novo mas ah nem vai rolar ela além de beber pouco enrola muito vejo que desse mato num vai sair coelho e...

PERDE O PONTO, ANIMAL, JÁ TÁ ATRASADO!!!

Acorda logo, mas nem em pensamento consegue parar de correr, correu tanto que quase perdeu o ponto. Desce, vai, chega minimamente atrasado no trampo.

E aí pára. Não corre mais. Tudo o que deveria ter sido feito ontem ele simplesmente deixa pra lá. Não faz nada na pressa, tudo agora anda devagar.

Como a sua vida. Devagar e sempre.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Highlandeando (*)!

(*) Do verbo highlandear -> ressucitar, ressurgir dos mortos, das cinzas, reaparecer.

Pra quem espera que a nossa bela cozinha fique entregue ás moscas e baratas, estão todos muito enganados ! Prometo que farei minh apresença no nosso humilde canto algo médio que frequente.

Papo merecedor de um cafezinho, vâmos lá: Como flertar no trânsito e obtêr sucesso em dois passos !

Sabe aquele dia em que vc está se sentindo por cima do filet ? Com a estima boa, o cabelo sedoso, a alegria no coração, uma roupinha descolada etc...etc...Bom, eu estava em um dia desses, e estava saindo de casa para um saudável (e cultural) encontro com a amiga. No rádio tocando os famigerados Dances comerciais (David Guetta, Ida Corr...esse povo). Paro no semáforo, olho pro lado, uma EcoSport....Huuum, se fosse um Uno, ou qualquer outro carrinho, óóóóóbveo eu nem me atentaria para o conteúdo do auto, mas por ser um carro de presença, vâmos prestar mais atenção né ? Então eu vi o condutor, um homem, pele morena clara, cabelo baixinho, um sorriso lindo...Ele deu uma olhada pro lado também...eu dei um sorriso...e o semaforo abriu.

Mais para frente....Pela sorte do bom Deus, outro semaforo, porém agora a Eco parou na minha frente...E o cara deu uma olhadinha pelo retrovisor esquerdo....Eu continuei encarando....com o meu braço na porta do carro, e o dedinho na boca....Ele olhando...eu olhando....e não parei de olhar....até que dei um sorriso e uma piscadinha....

Semaforo abre...siguimos em frente, o cara joga pra direita e deixa eu passar na frente....para do meu lado...abaixa mais o vidro e fala coisas que eu não entendi....Beleza....Ele entra na minha frente de novo e faz sinal para eu parar no posto logo a frente....Mamá parou ? ÓBVEO QUE SIM !!

Ahahahahah ! Bom....Aí percebi que o cara era ainda mais bonito do que eu imaginava, olhos castanhos esverdeados e talz....Trocamos telefone e combinamos de nos ligar...E enquanto ele segurava o celular dele para marcar o meu, eis que vejo uma aliança prateada na mão direita do indivíduo...Nhunf....Bom, nhunf nada. Problema dele e não meu.

Saí contente e saltitante do posto ! Primeiro flerte de 2009...Uhuhu !

Bom...Querem saber se falei com o cara depois ? Querem ? Mesmo ? Aaaahhh que pena. Quem sabe eu continue a história qualquer dia....Quem sabe....

domingo, 11 de janeiro de 2009

O bom filho...

... pra casa sempre volta! Pois é. Eu voltei.

Resolvi fazer uma mini limpa no meu antigo blogue pessoal [dá muita preguiça MESMO de começar do zero], e resolvi que agora as postagens pessoais ficarão por lá.

Pra quem num conhece ainda, é o Coletivo de Idéias, e é por lá e pelo Sado que eu aparecerei com mais frequência [que saudade da trema...]

Aqui vai ficar abandonado até que uma das minhas colegas de trabalho [/SilvioSantos] tomem vergonha na cara de pau delas e resolvam contar alguma novidade aqui no Coffee!

Resolvi voltar pra casa também porque isso aqui tava virando o meu blogue pessoal, e não era esse o propósito do Coffee. Aqui era pra ter notas curtas, coisa rápida, exatamente a questão de um coffee break no trabalho ou em casa, ou no caralho a quatro.

Entenderam? Então tá. Tô lá. Apareçam! E não reparem a bagunça, a casa ficou abandonada, portanto ainda tá meio sujinha... ¬¬

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A árvore do Jorge Tadeu

Incrível como algumas coisas da minha infância vêm a minha cabeça de uma forma assim... tão de repente! Lendo os textos atualizados no Google Reader, eis que me deparo com um nome que há anos eu não ouvia: Jorge Tadeu. O que me fez lembrar de uma história que há décadas eu não conto a ninguém: a minha experiência pessoal com a árvore do Jorge Tadeu.

Os mais jovens, talvez, não irão saber quem é o Jorge Tadeu. Então, como sei que muitos dos meus leitores são tão preguiçosos ocupados quanto eu, eu pesquiso e conto para vocês. Jorge Tadeu, minha gente, era personagem de uma antiga [ANTIGA?] novela da Globo, Pedra Sobre Pedra. Ele era representado por ninguém mais, ninguém menos que [abana a menina aqui que eu vou desmaiar] Fábio Jr.

[pára tudo e chama a Nasa!]

Ana P., como assim, você... Fábio Jr... tipo... gosta????

Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, minha gente, confesso publicamente nesse momento que eu tenho uma raiz brega dentro do meu ser, e essa raiz brega é completamente apaixonada, desde minha tenra infância, pelo Fábio Jr. Canto as músicas dele com uma empolgação de quem está num show do... Pearl Jam, por exemplo. E quando ele balança o cabelo??? NUOOOOOOOOSSSAAAAA!!! Desmaio!! Sim, gente, eu casaria com Fábio Jr. Na verdade, minhas intenções com ele são puramente sexuais, mas se pra isso eu tivesse que casar, eu casava [só não teria filho, mas isso são outros quinhentos]. Podem falar, podem zuar, eu vou deixar um espaço pra isso.

[continuando com a programação normal]

Pois bem. Sabendo da minha paixão pelo Fábio Jr., e sabendo que ele atuava na novela Pedra sobre Pedra, que cazzo de árvore do Jorge Tadeu é essa? Bem... no enredo da novela, tinha a tal da árvore do Jorge Tadeu, que foi uma árvore nascida na praça da cidade de Resplendor, logo depois do assassinato [snif, snif] do Jorge. Daí queeeee... nessa árvore nascia uma frô branca [flor-de-leite, copo-de-leite, sei lá o nome da tranqueira da flor] que, se a mulher comesse essa flor [não lembro se tinha tipo um dia da semana, do mês ou do ano que tinha que comer], ela encontrava com o falecido Jorge Tadeu, e aí fazia as coisas que em vida ele não pôde fazer.

Enfim, coisa besta.

Mas pensa numa menina jovem. Inocente, curtindo uma infância feliz, influenciada pelas novelinhas da Globo. Essa era eu. Não lembro exatamente quantos anos eu tinha, sei que era uns oito anos de idade, quando fui numa quermesse do bairro aonde uma das barracas tinha a tão aclamada ÁRVORE DO JORGE TADEU!!! A idéia, pelo pouco que me lembro, era pagar um valor X pra jogar um dardo Y em algum lugar Z. Se acertasse, tirava uma flor da árvore e comia abria para ver qual era o prêmio que levava. Eu comprei, acertei, ganhei uma daquelas facas de brinquedo que enfia na cabeça. E a tão desejada, tão idolatrada, flor da árvore do Jorge Tadeu.

Eu, toda feliz, toda inocente, fui mostrar pra minha irmã a flor, e ela, derrotando todos os meus sonhos infantis, dá risada da minha cara e diz: "É DE PAPEL, SUA IDIOTA!!!".

Que coisa! Foi pior do que descobrir que Papai Noel não existia! Como, era de papel? Então eu não podia comer? O Jorge Tadeu não ia aparecer? Fiquei tão desolada, que queria ir pra casa imediatamente, deitar e chorar minha ilusão perdida.

Pois fui. Deitei. E não dormi. Fiquei imaginando se a árvore da novela também não tinha flores de papel. Fiquei imaginando se o Jorge Tadeu não iria atender ao pedido de uma menina apaixonada, perdidamente apaixonada, e totalmente biruta. Fiquei imaginando se fazia grandes diferenças comer a flor de verdade, ou a flor de papel.

NÃO TIVE DÚVIDAS: levantei, peguei a flor de papel e comi!!!

Primeira vez [e única, até onde me lembro o.O] que comi papel na vida. Comi com gosto, imaginando em cada pedacinho que o Jorge Tadeu ia aparecer no meu quarto [na época eu dormia com a minha irmã], e que ele ia deitar comigo na cama e dormir abraçado a mim [na época, como menina inocente, eu nem sonhava em dar pro Jorge Tadeu!]. E antes da minha irmã acordar, ele iria embora, silenciosamente, e eu ia ouvir o Fábio Jr. cantando "não se admire se um dia / um beija flor invadir / a porta da sua casa / te der um beijo e partir...".

Comi a flor. Acabou o papel. E nada de Jorge Tadeu.

Depois eu me pergunto de onde surgiu tanta idiotice em mim.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Auto-doação

Mesa de bar é bom para discutir determinados assuntos que talvez não tenhamos coragem de discutir em plena sobriedade. Apesar de que algumas poucas garrafas de cerveja não tem como deixar ninguém alterado. Mas já libera algumas revelações:

- Queria dar mais esse ano. Pra qualquer um que quiser comer. Sem pudor.

Os amigos olham em volta, alguns arregalam os olhos, vamos ver se alguém na mesa do lado ouviu essa insanidade. Como assim, Bial, tá maluca, e as questões humanitárias, mudar o mundo, trabalhos voluntários, doar metade do salário para fundos de defesa civil, e aí? Esse é o seu único objetivo este ano, dar mais?

- Dar é uma questão humanitária, oras! Você dá o que você tem de melhor, o que eu tenho de melhor no momento é a periquita, e é ela que eu quero dar ao mundo.

Menina pervertida, ou melhor, ela era a mais santa da turma! Como pode estar falando em dar, periquita, sendo que ninguém nunca nem ouviu falar da danada estar interessada em algum homem? Pobre mocinha [pobre?], os amigos já haviam até cogitado o lesbianismo, hum, acho que essa aí é interessada em colar velcro, qualéquié, nunca deu em cima de nenhum de nós. E agora ali, coração e pernas abertas, se oferecendo abertamente, se doando, doando o que de melhor havia nela: o sexo misterioso.

- Então você não é virgem mais? Conta aqui pros seus amigos.

As outras meninas da mesa, cada vez mais desconfortáveis. Antes, com suas tiradas, com seus poucos [mas ainda existentes] pudores, elas chamavam mais a atenção. Mas a virgenzinha, a talvez lésbica, agora se revela e certeza os caras já estão até de pau duro, imaginando como deve ser comer aquela belezinha. Nããão, não podemos deixar isso acontecer, essa menina certeza é virgem, vai que ela só leu em algum conto do Bukowski e achou que pode enganar a gente com essa safadeza falsa. Num vai mesmo.

- Eu não quero falar sobre sexo, eu quero fazer sexo, é diferente.

Mas o que ninguém sabia é que ela ainda era virgem, sim. Nos seus quase trinta anos, sempre evitou entrar nos assuntos de safadeza e libertinagem com os amigos, afinal, não entendia muita coisa disso. Nunca havia ido além de uns chupãozinhos nos seios com seus pouquíssimos namorados. Também nunca apresentara nenhum deles pra turma, com medo do que ele pudesse falar, ou pior, com pavor que ele se interessasse por uma dessas vadiazinhas falsas que se oferecem pra qualquer um com um pinto no meio das pernas. Ela, não. Pura, mas apenas no corpo. A mente, essa imaginava as coisas mais pervertidas, os locais menos prováveis, os caras menos desejados, mas os mais disponíveis. E então resolveu, esse ano vai, esse ano eu vou, dar muito, dar demais, dar até o fim, como se não houvesse amanhã.

- Se vocês quiserem, posso liberar. Só pedir.

Nenhum se manifestou, não ali, mas já planejavam ligar pra ela assim que saíssem de lá. Não é todo dia que uma menina se oferece assim, tão sem pudores, tão livremente, tão eroticamente. A conversa mudou imediatamente, para evitar maiores demonstrações públicas de 'tô afim sim, vambora':

- Viu, vai estrear "Se eu fosse você 2", no cinema, quem tá afim de ir?

Mudo de assunto, gosto de azul.

[mudando um pouco o estilo de escrita. Na verdade, não muito. Só querendo saber mesmo como vocês reagem a uma mudança brusca de estilo, hahahahahahaha! E, como sempre diria o House, I'm ready to be judged]

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Acabou.

Quando as luzes reacendem, o público começa a se levantar para ir embora, as risadas cessam e os aplausos param, o palhaço precisa saber que é nessa hora que o espetáculo acaba.

O fim do espetáculo não é nada. Ele sabe que no dia seguinte terá outro. Até o fim da temporada, o palhaço não precisa entristecer, pois todos os dias haverá espetáculo. Terá a festa, as risadas, os aplausos. A consagração máxima. O ápice do prazer de um trabalho bem feito. Mas... assim que tudo encerra, fica o vazio, a sensação de não pertencer a este lugar, não estar no caminho certo.

Quando retira-se a máscara, quando limpa a cara e borra toda a maquiagem, quando lança o algodão sujo no lixo, e tudo o que tem à sua volta é o silêncio, o palhaço entende. Por poucos momentos, o público é dele. Ele tem a todos na palma da mão, manipula cada respiração, cada gargalhada, cada aplauso. Em contrapartida, ele é do público. Todas as estripulias, toda aquela fantasia, ele apenas representa. Tanto é que a máscara, a maquiagem está lá para provar e comprovar: ele não é o palhaço feliz.

Ele ainda não conhece a felicidade no picadeiro. Ele gosta do que faz, ele aprecia o que faz, mas a felicidade reside apenas no palhaço. Ele, sem a máscara, sem os aplausos, sem as luzes e o brilho do palco, não é o palhaço. É apenas mais um na platéia, mais um que agradou a todos na platéia, mas que, fora dali, não é absolutamente nada para ninguém. É um ser andante. Mais um ser andante.

Outro dia, outro espetáculo, outras risadas, outros aplausos. O vazio, continua sempre o mesmo.

[Anitelli disse: a felicidade bestializa. só o sofrimento humaniza as pessoas]