quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Acabou.

Quando as luzes reacendem, o público começa a se levantar para ir embora, as risadas cessam e os aplausos param, o palhaço precisa saber que é nessa hora que o espetáculo acaba.

O fim do espetáculo não é nada. Ele sabe que no dia seguinte terá outro. Até o fim da temporada, o palhaço não precisa entristecer, pois todos os dias haverá espetáculo. Terá a festa, as risadas, os aplausos. A consagração máxima. O ápice do prazer de um trabalho bem feito. Mas... assim que tudo encerra, fica o vazio, a sensação de não pertencer a este lugar, não estar no caminho certo.

Quando retira-se a máscara, quando limpa a cara e borra toda a maquiagem, quando lança o algodão sujo no lixo, e tudo o que tem à sua volta é o silêncio, o palhaço entende. Por poucos momentos, o público é dele. Ele tem a todos na palma da mão, manipula cada respiração, cada gargalhada, cada aplauso. Em contrapartida, ele é do público. Todas as estripulias, toda aquela fantasia, ele apenas representa. Tanto é que a máscara, a maquiagem está lá para provar e comprovar: ele não é o palhaço feliz.

Ele ainda não conhece a felicidade no picadeiro. Ele gosta do que faz, ele aprecia o que faz, mas a felicidade reside apenas no palhaço. Ele, sem a máscara, sem os aplausos, sem as luzes e o brilho do palco, não é o palhaço. É apenas mais um na platéia, mais um que agradou a todos na platéia, mas que, fora dali, não é absolutamente nada para ninguém. É um ser andante. Mais um ser andante.

Outro dia, outro espetáculo, outras risadas, outros aplausos. O vazio, continua sempre o mesmo.

[Anitelli disse: a felicidade bestializa. só o sofrimento humaniza as pessoas]

7 comentários:

Anônimo disse...

Nossa

Apeser de tudo

Achei feliz...

Muito

Piero M. disse...

"Ria, e o mundo ira rir com você. Chore, e estará sozinho"
-trecho do filme Old Boy-

Qual a real necessidade de uma felicidade momentanea? Será pelo aparente momento em que acreditamos que tudo é perfeito, para assim descobrir ao final que a realidade é bem diferente?

Estou cansado de felicidades momentaneas. E apoio sua frase, felicidade de cu é rola!

Andarilho disse...

Belissimo texto.

Piero M. disse...

Poesias são apenas poesias, ainda que em ordem para que a coisa fique "bonitinha"

Antes eu escrevesse tudo, soltasse como um espirro, um grito, mas, por enquanto, não me é possivel!

Obrigado pelo elogio, mas com certeza, seus textos são melhores! rs..rs..rs..

Anônimo disse...

arrepiei. entendi cada palavra. uma vez escrevi um poema sobre um palhaço e era exatamente isso, ele infeliz arrancando gargalhada da platéia.
sempre pensei que ser palhaço fosse o pior emprego do mundo, porque quando acaba o espetáculo, o que sobra? o nada.

Ana P. disse...

Poeta: felicidade era o último sentimento que eu tinha no coração na hora que eu escrevi isso. Talvez poucos tenham entendido a conotação. Mas tudo bem. Hahahahahahahaha! Esse era o objetivo!

Piero: adoro visitas novas, ainda mais quando não faço a menor idéia de como o povo chega aqui! Realmente, felicidade de cu é rola, as pessoas fingem o tempo todo, batem palma pra maluco dançar, chega de falsidade, tira a máscara, pô! Valeu pela visita, beibe!

Andarilho: belíssimo? Hum... não sei. Mas foi escrito realmente para mim, por mim, e espero que mais alguém compartilhe comigo desse sentimento de fim de espetáculo. Porque pior do que ficar sozinha no picadeiro, é ser a única que fica sozinha no picadeiro, sempre esperando pela próxima platéia.

Patrícia: realmente, o palhaço pode estar entre os piores empregos do mundo. Compartilha dessa dor também o escritor, que escreve fantasias, mundos não vividos, histórias não curtidas, e todo mundo ri, e talvez só ele chore.

Beijos no corpo, pessoas!

Pamela Lima disse...

As novelas mexicanas que o digam.

Sofrimento humaniza.