[se você é uma pessoa deveras sentimental, ou mesmo da família da garota, e que possa se ofender por eu não ter parado a minha vida para acompanhar o fim trágico de uma vida tão curta, então por favor... nem continue a ler]
Acordo e uma das primeiras coisas que eu ouço nas notícias do rádio é que Eloá Cristina Pimentel, a garota que foi mantida refém do ex-namorado por X horas, foi enterrada nessa manhã em Santo André. E ouço, aí sim estupefata... DEZ MIL PESSOAS compareceram ao enterro da garota. Puxa, dez mil pessoas é muita gente mesmo.
Eu não fui ao enterro da Eloá. Mas por favor, não me julguem mal. Não foi por não me comover com a história do seqüestro. Sim, eu torcia para que a menina saísse bem dessa história ridícula criada pelo ex-namorado. Sim, eu fiquei chocada ao saber que uma menina tão jovem acabou morrendo por conta de uma mente doentia que não aceitou um "não te quero mais" como argumento. Sim, fiquei emocionada ao saber que a família doou os órgãos. Mas não, eu não quis prestar homenagem à garota.
Assim como eu não fui ao enterro da menina Isabella. Assim como não fui ao enterro do menino João Hélio. Assim como não compareci ao enterro das crianças assassinadas na frente da Igreja da Candelária, no RJ. Assim como não compareci ao enterro dos 111 presos assassinados no Carandiru. Assim como não compareci ao enterro de nenhum dos milhares que morrem diariamente de fome, de sede, de frio ou de calor, em qualquer parte do mundo.
Também não fui no enterro dos que morrem de AIDS na África, por não terem condições de se tratarem. Não fui no enterro de nenhuma dessas pessoas que morrem heróicamente [ou não], defendendo uma causa humanitária, defendendo as florestas, defendendo os animais, defendendo o seu país, defendendo o seu lar, defendendo o seu futuro. E olha que por todos eles eu também me emociono. Eu também me revolto. Mas não... eu não fui ao enterro de nenhum deles.
O caso é que eu sei que não vai adiantar eu prestar a minha homenagem a nenhuma dessas pessoas. Porque hoje ainda vai se falar muito desse e de outros casos, mas amanhã vai surgir um outro. E outro, e outro. E outro. E nós continuaremos passivamente a assistir as pessoas passarem, a assistir o mundo, a vida passar, e não fazer nada de diferente.
Nos apressamos tanto em julgar e condenar aqueles que tentaram negociar a rendição do ex-namorado. Por que não julgar aqueles que investem BILHÕES de dólares para tentar salvar suas economias, mas não podem investir um único centavo para tentar tirar o mundo da miséria que só cresce? Por que não julgar os nossos políticos que roubam, que estupram dia a dia os cofres públicos, que manipulam, mas não movem uma única palha pela melhoria da vida do cidadão comum? Por que DEZ MIL PESSOAS se comoveram com a história da Eloá, mas nem dez pessoas se comovem com a história de quem num tem um teto, de quem num tem um pão, de quem num tem emprego, de quem num tem a quem recorrer?
Claro que eu falo da boca pra fora. Claro que eu faço parte desses tantos que acompanham a novela da vida diária criada pela televisão. Claro que eu não tiro minha bunda do sofá para fazer a revolução. Porque é muito mais fácil falar dos outros. Mas não... eu não fui ao enterro da Eloá.
[a minha tv tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá.]
Acordo e uma das primeiras coisas que eu ouço nas notícias do rádio é que Eloá Cristina Pimentel, a garota que foi mantida refém do ex-namorado por X horas, foi enterrada nessa manhã em Santo André. E ouço, aí sim estupefata... DEZ MIL PESSOAS compareceram ao enterro da garota. Puxa, dez mil pessoas é muita gente mesmo.
Eu não fui ao enterro da Eloá. Mas por favor, não me julguem mal. Não foi por não me comover com a história do seqüestro. Sim, eu torcia para que a menina saísse bem dessa história ridícula criada pelo ex-namorado. Sim, eu fiquei chocada ao saber que uma menina tão jovem acabou morrendo por conta de uma mente doentia que não aceitou um "não te quero mais" como argumento. Sim, fiquei emocionada ao saber que a família doou os órgãos. Mas não, eu não quis prestar homenagem à garota.
Assim como eu não fui ao enterro da menina Isabella. Assim como não fui ao enterro do menino João Hélio. Assim como não compareci ao enterro das crianças assassinadas na frente da Igreja da Candelária, no RJ. Assim como não compareci ao enterro dos 111 presos assassinados no Carandiru. Assim como não compareci ao enterro de nenhum dos milhares que morrem diariamente de fome, de sede, de frio ou de calor, em qualquer parte do mundo.
Também não fui no enterro dos que morrem de AIDS na África, por não terem condições de se tratarem. Não fui no enterro de nenhuma dessas pessoas que morrem heróicamente [ou não], defendendo uma causa humanitária, defendendo as florestas, defendendo os animais, defendendo o seu país, defendendo o seu lar, defendendo o seu futuro. E olha que por todos eles eu também me emociono. Eu também me revolto. Mas não... eu não fui ao enterro de nenhum deles.
O caso é que eu sei que não vai adiantar eu prestar a minha homenagem a nenhuma dessas pessoas. Porque hoje ainda vai se falar muito desse e de outros casos, mas amanhã vai surgir um outro. E outro, e outro. E outro. E nós continuaremos passivamente a assistir as pessoas passarem, a assistir o mundo, a vida passar, e não fazer nada de diferente.
Nos apressamos tanto em julgar e condenar aqueles que tentaram negociar a rendição do ex-namorado. Por que não julgar aqueles que investem BILHÕES de dólares para tentar salvar suas economias, mas não podem investir um único centavo para tentar tirar o mundo da miséria que só cresce? Por que não julgar os nossos políticos que roubam, que estupram dia a dia os cofres públicos, que manipulam, mas não movem uma única palha pela melhoria da vida do cidadão comum? Por que DEZ MIL PESSOAS se comoveram com a história da Eloá, mas nem dez pessoas se comovem com a história de quem num tem um teto, de quem num tem um pão, de quem num tem emprego, de quem num tem a quem recorrer?
Claro que eu falo da boca pra fora. Claro que eu faço parte desses tantos que acompanham a novela da vida diária criada pela televisão. Claro que eu não tiro minha bunda do sofá para fazer a revolução. Porque é muito mais fácil falar dos outros. Mas não... eu não fui ao enterro da Eloá.
[a minha tv tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá.]
7 comentários:
A melhor maneira de se homenagear os mortos não é ir a enterros. É viver a vida, de maneira que se eles estivessem vivos, se orgulhariam da gente.
Caraca, Aninha... é exatamente isso aí! O mundo tem problemas tão sérios que o caso da Eloá quase que fica corriqueiro... infelizmente.
Concordo com você. Por isso que quero investir numa carreira que seja mais pública pois assim não serei tão refém do dinheiro privado e poderei lutar por um país mais democrático.
Esse é o meu jeito, mas cada um tem que encontrar o seu...
"eu sou facinho de marré-de-si, se a maré subir, eu vou me levantar..."
Ai se eu tivesse descoberto este blog antes... Não perderia um post seu! Estou presa aqui faz mais de uma hora!
Sofro desse novo mal compartilhado por raros. A consciência de que, mesmo não aprovando, ou melhor, mesmo repugnando o sensacionalismo de casos como esse, ainda sou obrigada a engolir, com saliva seca, essa minha postura que, apesar de pouca coisa mais elaborada, nada parece se diferenciar da postura conformista da grande maioria das pessoas.
Mas Ana, eu passei a acreditar que os revolucionários de sofá mudarão o mundo. E desde então troquei o sofá por uma cadeira. ;)
é o sono, desconsidere os erros. engasguei tudo! auhuha
é o sono, desconsidere os erros. engasguei tudo! auhuha
Quanta demagogia, meu Deus... E da pior qualidade (se é que ela existe)...
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